terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sozinho


Quando cheguei a tardinha de sol poente,
Notei que a porta não estava entre-aberta.
Que a mesa não estava posta,
Que a toalha não estava estendida,
Que os lençóis não me esperavam como antes,
E que seu cheiro não pairava mais no ar.

O silêncio mórbido era a presença mais marcante,
Um nó estreitava a garganta.
Vi que sua vida
Não estava mais em minhas gavetas,
Espalhadas no meu quarto,
Lado a lado no meu leito.

Neste momento prefiro a escuridão que me cobre aos poucos,
A certeza da ida sem volta me atormenta.
Quero um mundo de morfina e anestésicos,
bálsamos para as noites em frio.

Quero um canto silencioso, de brisa que me corta a carne
Que me mostre falhas e erros.
Quero o conforto daquela serra, que ao longe da minha janela,
Me faz companhia nesses dias de gloria e dor,
Sozinha como eu.

Extase


Desvendar teus mistérios

é deixar-me na total

lucidez da loucura.

É querer buscar-me

entre pele, boca, seios e sexo.

É perder-me na tua infinita beleza.

Teu olhar, outra fonte de prazer

No teu sorriso estagnar

todas as formas do amor.

Na descoberta dos delírios

quase onipotente do teu corpo,

encenando para a loucura do êxtase,

te possuindo e possuído

na total explosão o espírito.

domingo, 2 de setembro de 2007

Me empresta

Me empresta teu sorriso,
E veja que ainda posso ser feliz.
Me empresta teu olhar e direciona para mim
Um mundo lindo, que as vezes penso ser todo cinza.
Me empresta esse sonho, que a tempo deixei de ter
Me empresta todo esse jeito seu de ser,
Pra dizer que um dia fui também assim.
Me empresta, que um dia prometo devolver.

O poeta

...O poeta não tem idade,
não tem sexo,
não tem nacionalidade.
Ele é um ser de todo o uni-verso
de sentimento.

Palavras

É nas palavras que o mundo
Abre-se para mim.

Nas palavras cantadas.
Hinos, louvores, clamores de adoração.

Nas palavras faladas,
Essas, se no planalto, só vagam,
Tantas por nada.

Palavras pintadas,
Cores, como flores, todas beija-flores.

Palavras rimadas, escritas, profetizadas.
Poetizadas, na voz do cantador,
No meio da mata,
Cantando a teimosia
Que separa o branco de um negrume.

Palavras caladas, gestos de sofrimentos
Cálidas, agônicas, forjadas.

Palavras... palavras... palavras...

Multidão



Existe um rosto perdido na multidão,
Marcado, aflito, tão pálido e sem voz.

Existe uma voz na multidão,
Tão rouca, fraca, sem garra, sozinha.

Existe uma vontade na multidão,
De direitos, de leitos, de terra, de razão.

Existe uma terra sem multidão,
Tão só, deserta, parada sem plantação.

Existe um povo sem terra
No meio da multidão.